Erveiro, herbanário, entendido, raizeiro ou curandeiro?
Utilizadas
como único recurso médico para combater as enfermidades que recaiam
sobre os nativos da região da grande Florianópolis. As ervas e plantas medicinais, algumas como
eficiência científica comprovada, formavam o universo farmacopédico
da medicina popular que, importadas pelo açoriano, passou a contribuir
também para o enriquecimento cultural do povo ilhéu e arredores. Assim, diferente
do benzedor, o curandeiro autêntico, era aquele que disponibilizava a
quem dele precisasse compostos de plantas e ervas, somados a outros
ingredientes naturais, seguidos de aconselhamentos específicos que o
levassem a cura daquela perturbação orgânica. Já o benzedor, utiliza
as ervas frequentemente, junto com a força de suas palavras durante as
rezas que praticava, com o mesmo intuito. No Açores, como na Ilha, as
plantas medicinais ainda são largamente utilizadas. Sendo, com certeza,
das manifestações culturas mais preservadas da região.
Uma
grande variedade de chás, unguentos, emplastros e lavagens formam a
diversificada farmacopeia de domínio popular da cultura açoriana. São utilizadas
ervas como: a arruda, a hortelã, a losna, o boldo, a quebra-pedra, a
erva-doce, o funcho, a malva, a cidreira, a salsaparrilha, o
capim-limão, a pata de mula, o mastruço, a guiné, a camomila, as
folhas do algodoeiro, do pau-de-ferro, do sabugueiro, da aroeira, do
louro, entre muitas outras. Como composto na diluição para influir na
facilidade da absorção do medicamento são utilizados o vinagre, a
cachaça, o mel e a urina.
O
uso de benzeduras aliadas ao momento da aplicação da homeopatia é
muito comum. Particularmente, as fricções, com folhas picadas sobre a
pele, costumam ser acompanhadas por benzeduras.
APLICAÇÕES FARMACOPEIAS AÇORIANAS
Abscessos,
acidez, rouquidão, aftas: malva, alfavaca, limão.
Ausência
de menstruação: chá de algodoeiro, arruda, louro.
Alcoolismo:
chá de folhas de maracujá, com limoeiro.
Anemia:
agrião-do-pará.
Asma:
chá de eucalipto, alfazema, limão e flor-da-noite.
Arrotos:
camomila, erva-cidreira.
Afecções
do estômago: alfavaca, limão, camomila-romana, quebra-pedra.
Barriga
d'água: purgante de sal amargo.
Bronquite:
agrião, violeta, compressas quentes e frias.
Catarro
nasal: aspirar o chá de malva.
Cãibra:
camomila-romana.
Catarros:
algodoeiro, eucalipto, hortelã, limão, losna e malva.
Caxumba
(papeira): chá de limão com as folhas.
Coceiras:
eucalipto.
Calos:
mergulhar o pé em água morna e aplicar alho socado com sabão.
Caspa:
lavar o couro cabeludo com limão e esfregar babosa.
Cistite:
erva-cidreira e banho quente de assento.
Cólicas:
chá de fumelo e losna.
Congestão
cerebral: flor-da-noite, limão.
Coqueluche:
preparar um xarope de limão com mel e dar uma colher de meia em meia
hora; ficar no sol, ao ar puro.
Constipação
do ventre: chamada prisão de ventre ou prisão do vento, pois
por constipação se entende vulgarmente o resfriado; são usados o
azeite doce e os purgativos, já citados; a crônica é combatida pelo
uso continuado e freqüente das pílulas laxativas de propaganda
popular.
Contusões
e escoriações: urinar imediatamente sobre a parte contundida; tomar
gotas de arnica, com água de arnica, com chá de gervão, que também
é dado a beber; Moreira registrou em Porto União, na região do
planalto norte de Santa Catarina, a aplicação da urina, mas devendo
ser de individuo do sexo oposto ao machucado; Pires de Lima, em
Portugal, os emplastros de ferrugem com urina.
Convulsões:
as convulsões infantis são sempre chamadas ataque das bichas;
em geral, fazem fricções pelo corpo com ervas picadas - salsa, hortelã,
erva-de-santa-maria e outras, misturando com vinagre; dá-se o vinagre a
cheirar; quando possível, chá de hortelã a beber; se verificada
elevada temperatura, ou suspeitada que a febre é por dentro, sinapismos
nas panturrilhas e nas plantas dos pés; o chá de erva-cidreira é
muito usado para não deixar voltar o ataque.
Desmaios:
vulgarmente chamados acidentes; quando se diz ao médico que fulano
teve um acidente não se quer dizer que sofreu um acidente, mas que
teve um desmaio, uma síncope; procura-se fazer voltar a si o paciente,
por meio de fricções de vinagre ou de álcool, principalmente nas
fontes (têmporas), dá-se a cheirar o vinagre, estimulando-o com
palmadas nas mãos e na face, enquanto se faz em torno uma gritaria,
alegando-se não ser nada; café quente para tomar é a providência
imediata quando o doente volta ao estado consciente.
Doença
de São Guido: dieta de frutas, lavagens intestinais.
Dor
de cabeça: erva-cidreira, flor-da-noite, alfazema, limão.
Desmaio:
chá de erva-cidreira.
Diabetes:
pau-de-ferro, limão, quebra-pedra; comer ostras cruas.
Diarreia:
compressas quentes na barriga, para aliviar a dor, chá de aroeira
quente, chá de tolha de goiabeira e pitangueira.
Diuréticos:
agrião, alfavaca, alfazema.
Dor
de dente: erva cidreira, hortelã, malva.
Envenenamento:
limão, losna.
Erisipela:
aroeira, babosa; tomar água em abundância; fazer cristel diário, para
limpar os intestinos, fazendo escalda-pés diários.
Fraqueza:
comer agrião, hortelã e suco limão.
Furúnculos:
emplastros de sabão, vinagre e sal.
Faringite:
gargarejos com chá quente; pincelar a garganta com suco de limão.
Febres:
alfavaca, anil, eucalipto, arruda, babosa, limão.
Frieiras:
limão.
Gastrite:
alimentos leves, suco de frutas, caldos leves, água morna.
Gripe:
limão, losna, sabugueiro, banhos de vapor.
Hemorroidas:
sabugueiro, banho de assento frio, de três a quatro minutos, ou banho
morno em água ligeiramente envinagrada (vinagre de qualidade).
Inflamação
intestinal: chá da flor do algodoeiro, limão.
Inflamação
na bexiga: losna, quebra-pedra.
Inflamação
da laringe: sabugueiro, limão e alfavaca.
Mau
hálito: limão, losna (ver os males da boca e estômago).
Menstruação
difícil e dolorosa: banhos de assento quentes, com funcho.
Palpitações
no coração: chá de erva-cidreira.
Perturbação
do tubo digestivo: abutua, alfavaca, cominho.
Purificar
o sangue: agrião, amor-perfeito. Salsaparrilha, sabugueiro.
Queda
do cabelo: banho de sol, babosa, alfazema.
Sífilis:
limão, salsaparrilha, nogueira.
Terço:
compressas quentes, óleo de amêndoa doce.
Fonte: Fundação Franklin Cascaes.